A partir do dia 01 de abril de 2014, a ESCOLA LIVRE DE TEOLOGIA – foi oficialmente reconhecida como membro integrante da Fraternidade Mundial de Igrejas Reformadas (World Reformed Fellowship / www.wrfnet.org).

Desde então, subscrevemos aos termos da Declaração de Fé e de Prática da referida Fraternidade, conforme transcrita abaixo, com as devidas observações.

DECLARAÇÃO DE FÉ – FRATERNIDADE MUNDIAL DE IGREJAS REFORMADAS 

Prefácio pelo Dr. Samuel Logan Diretor Internacional da Comunhão Reformada Mundial (WRF)

Quando um projeto como essa Declaração de Fé é finalmente terminado, a resposta natural (e completamente cristã) é alegrar-se. Desta forma, nós, de fato, nos regozijamos em que o Senhor levou a tarefa a cabo. E certamente foi Ele quem o fez. E com igual certeza, Ele usou muitos de seus servos no processo. A maioria desses servos é mencionada abaixo. Mas um que não foi mencionado abaixo é o autor da “Introdução”.

Andrew McGowan gastou incontáveis horas nesse projeto, desde sua sugestão inicial no ano 2000, até que a Declaração estivesse pronta nesse documento final. Ele tomou a iniciativa de supervisionar que o trabalho necessário fosse realizado em todos os estágios do projeto, e, por tê-lo feito é que o projeto pode agora ser concluído.

Mas não só por ter tomado a iniciativa que a liderança de Andrew foi eficaz. Ele gerenciou o projeto com paciência e sabedoria, frequentemente trazendo às discussões seu próprio e extraordinário conhecimento teológico (reformado e evangélico). Nem sempre Andrew “prevaleceu”, nos muitos debates que caracterizaram os trabalhos da Comissão Teológica da WRF. Mas ele sempre se certificou que os assuntos criticamente importantes fossem completamente considerados, e demonstrou o tipo de graça que o documento celebra ao trazer as discussões eventualmente acaloradas a uma conclusão cuidadosa, bíblica e completamente reformada.

Em nome do Conselho de Diretores da Fraternidade Reformada Mundial e em nome de toda a nossa membresia, digo a Andrew McGowan: “Obrigado. Obrigado por um trabalho extremamente bem feito!”

Dr. Samuel Logan, Diretor Internacional, A Fraternidade Reformada Mundial 23 de abril de 2011

Introdução

Na Assembleia Geral inaugural da Fraternidade Reformada Mundial (WRF) em Orlando, Flórida, Estados Unidos, em 2000, eu propus que a recém-formada WRF pudesse servir a Igreja escrevendo uma nova Confissão de Fé para o século XXI. Havia três razões porque eu acreditava que isso poderia ser um projeto proveitoso.

A primeira razão era que os membros da WRF vieram de muitos países e denominações diferentes, e subscreviam toda uma ampla gama de confissões de fé. Essa lista incluía a Confissão Escocesa, a Confissão Belga, o Catecismo de Heidelberg, os Trinta e Nove Artigos, os Cânones do Sínodo de Dort, a Confissão de Fé de Westminster, a Declaração de Savoy, entre outras. Ao mesmo tempo, havia um consenso geral que todos éramos “reformados” em nossa teologia. Visto que éramos todos reformados, certamente deveria ser possível criar uma afirmação de fé comum?

A segunda razão era a necessidade de uma declaração confessional para tratar dos temas que a igreja está enfrentando hoje. Todas as nossas confissões foram escritas nos séculos dezesseis e dezessete e foram majoritariamente planejadas para afirmar a fé reformada em contraste com o catolicismo romano, e, no caso das últimas, o arminianismo. Nenhuma das confissões lida com os grandes assuntos que se contrapuseram à Igreja ao longo dos séculos dezenove e vinte, como o liberalismo, o pluralismo e pós-modernismo.

A terceira razão era que todas as nossas confissões foram escritas na Europa Ocidental, enquanto que a liderança na igreja global se moveu para o hemisfério sul. Pensei que seria interessante ver o que aconteceria quando eruditos da África, Ásia, Australásia e América do Sul se juntassem aos teólogos da Europa e América do Norte para realizar tal tarefa. Teólogos europeus e americanos tiveram um papel dominante na igreja mundial nos séculos mais recentes, de forma que pareceu ser o mais correto que agora trabalhássemos juntos com teólogos do Sul Global.

Aquela primeira Assembleia Geral deu a permissão para que o projeto seguisse adiante. Infelizmente, não havia recursos disponíveis para reunir os eruditos do mundo todo a fim de realizar essa tarefa. Finalmente, na Assembleia Geral da África do Sul, em 2006, a WRF apontou uma Comissão Teológica e instruiu a equipe de eruditos escolhida a iniciar os trabalhos para a redação de uma nova Declaração de Fé. Os membros da Comissão Teológica que realizaram esse trabalho são (em ordem alfabética): Dr. Pierre Berthoud, da França; Dr. Gerald Bray, da Inglaterra; Dr. Flip Buys, da África do Sul; Dr. Leonardo de Chirico, da Itália; Dr. Wilson Chow, de Hong Kong; Dr. Victor Cole, do Quênia; Dr. Allan Harman, da Austrália; Dr. Peter Jones, dos Estados Unidos; Dr. In Whan Kim, da Coréia do Sul; Dr. Julius Kim, dos Estados Unidos; Dr. Samuel Logan, dos Estados Unidos; Dr. Augustus Nicodemus Lopes, do Brasil; Dr. Andrew McGowan, da Escócia; Dr. David McKay, Irlanda do Norte; e Dr. Steven Tong, da Indonésia.

Dois desses homens merecem um comentário especial. Allan Harman serviu como secretário da Comissão Teológica ao longo do projeto e realizou uma boa parte do trabalho. Gerald Bray serviu como editor, para assegurar um estilo único.

Nesse ponto, também precisamos expressar a gratidão da Fraternidade Reformada Mundial ao Dr. Robert den Dulk. Foi Bob quem tornou esse projeto possível por meio de seu generoso suporte. Ele também nos foi de grande encorajamento nos primeiros dias dos trabalhos. É um grande desapontamento que ele não esteja mais entre nós para ver seu trabalho terminado.

Nosso método de trabalho consistiu inicialmente em identificar os tópicos que precisavam ser tratados; em segundo lugar, em designar esses tópicos para dois ou três membros da Comissão; em terceiro lugar, em discutir as seções propostas escritas pelos pequenos grupos e então enviá-los para a edição adequada; em quarto lugar, em revisar novamente as seções na reunião seguinte da Comissão. A maioria das seções passou por, pelo menos, três revisões antes de chegarmos ao texto final.

Quando a Declaração de Fé foi terminada, ela foi apresentada à Assembleia Geral da WRF na Escócia em abril de 2010. Todos os membros da WRF foram convidados a enviarem suas sugestões de mudanças ou adições ao texto, tendo como condição que fossem submetidas até outubro de 2010. Um número considerável de propostas foi recebido, e elas foram reunidas e circuladas à Comissão Teológica em janeiro de 2011. Em março de 2011, a Comissão Teológica se reuniu na Fourth Presbyterian Church, em Bethesda, Maryland, Estados Unidos. Naquela reunião nós caminhamos sistematicamente por cada proposta recebida e a Declaração foi devidamente emendada. Naturalmente, não aceitamos todas as propostas de mudança, mas cada uma delas recebeu cuidadosa consideração. Essa versão emendada foi, então, apresentada ao Conselho de Diretores da WRF no dia seguinte. Após uma leve modificação adicional, a Declaração foi aprovada pelo Conselho. É essa Declaração, conforme aprovada em 31 de março de 2011, que é apresentada aqui. Tendo sido escrita a pedido da Assembleia Geral da WRF e agora tendo sido aprovada pelo Conselho de Diretores da WRF, a Declaração de Fé será apresentada em sua forma final na próxima Assembleia Geral da WRF.

Há dois pontos importantes a serem considerados conforme oferecemos essa Declaração de Fé à igreja. Em primeiro lugar, a Declaração de Fé não tem como propósito substituir as declarações confessionais das denominações que são membros da WRF. Essa é uma Declaração adicional, que pode ser usada por indivíduos e igrejas conforme eles refletem sobre a natureza da teologia reformada e sua aplicação às questões teológicas e morais que confrontam a igreja no século XXI. Em segundo lugar, a subscrição da Declaração não é um requisito para membresia na WRF. A próxima Assembleia Geral da WRF pode decidir adiciona-la a lista atual de declarações confessionais, uma das quais aquele desejoso de se tornar membro precisa subscrever, mas isso é um assunto para a Assembleia Geral.

Todos nós que servimos na Comissão Teológica nos beneficiamos da experiência e aprendemos muito. Os debates em pontos doutrinais foram estimulantes e afiaram nossas mentes. A comunhão compartilhada foi amplamente apreciada, até mesmo quando discordamos, e foram forjadas amizades que durarão por toda a vida. Acima de tudo, houve um senso de comprometimento a um propósito comum. Pessoalmente, eu percebi mais do que nunca, o quanto o Iluminismo condicionou a teologia das igrejas na Europa e América do Norte e fui desafiado e humilhado por meus colegas do Sul Global, a quem eu tenho grande dívida.

Creio que o trabalho realizado será de grande valor e serviço para a Igreja, sendo um dos principais servir de ferramenta para promover o estudo de questões doutrinárias e educar o povo na fé reformada. Por favor, use-a e encoraje outros a fazer o mesmo.

Rev. Professor A.T.B. McGowan Presidente da Comissão Teológica da WRF

DECLARAÇÃO DE FÉ DA FRATERNIDADE MUNDIAL DE IGREJAS REFORMADAS 

I. A doutrina de Deus 

1. A identidade do Criador

Cremos em um único Deus, que é o criador, sustentador e governador de tudo que existe. Por seus decretos eternos, Ele estabeleceu o universo e governa-o de acordo com sua vontade soberana. Não existe nenhum ser maior do que Ele, e nenhum ser têm o poder de afetar, modificar e diminuir a sua soberania sobre a sua criação.

2. O Criador e suas criaturas

Deus comunica sua presença e seu poder a todas as suas criaturas, mas em particular à raça humana, que Ele criou à sua imagem, tanto homem como mulher. Existe igualdade básica entre homens e mulheres, mas com diferenças, de modo que os chamados aos homens e mulheres não são intercambiáveis, mas complementares. Apesar de não haver distinção de gênero em Deus, Ele se revela a nós em termos masculinos, e seu Filho se encarnou como um homem.

 3. A auto-revelação do Criador a todos os seres humanos

Deus é um ser pessoal e se revela em termos pessoais. Nos tempos antigos, Ele falou a muitas pessoas em muitas maneiras diferentes. Suas palavras foram acompanhadas e suas promessas se cumpriram por ações que eram sinais de seu poder. Ao falar com os homens, Deus revelou tanto a si mesmo como os seus propósitos para eles, na expectativa de que corresponderiam obedecendo ao que Ele lhes ordenara.

A ordem natural dá testemunho da existência, do poder e da majestade de seu Criador divino, de modo que ninguém possui qualquer desculpa para não crer nEle. Revelação geral é a expressão usada para descrever aqueles meios pelos quais Deus se revela a todos os seres humanos, sem exceção, na natureza, na história e na consciência. A revelação geral é suficiente para nos tornar cônscios da existência e do poder de Deus e, até, de nossas responsabilidades para com Ele, mas não é suficiente para trazer-nos à salvação. A revelação especial é exigida porque, como criaturas caídas, somos espiritualmente cegos e mortos. Obtemos o verdadeiro conhecimento de Deus, quando somos capacitados por Deus a ver e a entender a verdade de sua auto-revelação.

Pelo fato de que o homem foi criado à imagem do Deus pessoal, tanto Deus como os seres humanos são seres pessoais. Pensam, comunicam-se uns com os outros em maneiras que podem ser expressas em linguagem humana. Por causa dessa conexão, os seres humanos podem chegar a um conhecimento tanto da realidade visível como da invisível e usar conceitos derivados desta para desenvolver e transformar aquela. Como parte da criação visível, os seres humanos vivem em interdependência de todas as outras criaturas materiais, mas, porque são também criados à imagem de Deus, são conscientes de seu estado e capazes de buscar significado em, e exercer domínio sobre o resto da ordem criada.

O conhecimento humano é essencialmente pessoal e se estende de uma habilidade de adquirir e catalogar detalhes factuais à capacidade de analisá-los para chegar a um entendimento de seu significado e propósito mais profundo. Em virtude disso, os seres humanos têm uma responsabilidade para com a criação que lhes foi confiada e têm de prestar contas a Deus pela maneira como se relacionam com ela. O conhecimento humano é limitado objetivamente pela finitude da criatura e subjetivamente pela rejeição de Deus, uma rejeição que tem conduzido a um estado de pecaminosidade radical. A capacidade objetiva de obter conhecimento e entendimento permanece nos seres humanos, apesar de sua queda no pecado, mas o efeito disso é agora tão grande que é impossível a qualquer ser ou sociedade humana satisfazer o mandato da criação na maneira tencionada originalmente por Deus.

4. A auto-revelação do Criador ao seu povo da aliança

Deus se torna mais plena e completamente conhecido ao seu povo da aliança, com quem Ele estabeleceu um relacionamento especial. Deus se revela a eles pelo seu Espírito, mediante a sua Palavra, que é falada (pregação), escrita (Escritura Sagrada) e viva (em Jesus Cristo).

A revelação que Deus fez de si mesmo no Antigo e no Novo Testamento é exata e suficiente para o ser humano conhecê-lo, amá-lo e servi-lo. No entanto, esse conhecimento não pode ser completo porque há muito sobre Deus que não podemos conhecer, e há algumas coisas que podem ser conhecidas por experiência, mas não expressas plenamente em linguagem humana. Em si mesmo, Deus é tão diferente de qualquer de suas criaturas, que só podemos falar dEle em termos do que Ele não é: Ele não é visível, nem mortal, nem compreensível, física ou mentalmente. Contudo, Ele possui características que os seres humanos podem reconhecer e expressar; e Ele as possui em grau absoluto, de modo que é onisciente, todo-sábio e todo-poderoso. Essas características são identificáveis, mas não podem ser totalmente definidas nos limites da razão e da lógica humanas. Podem ser conhecidas apenas por meio de um relacionamento pessoal com Deus, estabelecido pela fé no Senhor Jesus Cristo.

Deus falou de modo especial a Abraão, a quem fez a promessa de que se tornaria o pai de uma grande nação. Ele receberia uma terra e traria bênção a todo o mundo. Essas promessas foram renovadas ao seu filho Isaque e ao seu

neto Jacó, que recebeu o nome de Israel. Por meio dos descendentes de Jacó, Israel se tornou um povo especial cujo destino histórico era receber e transmitir a Palavra de Deus ao mundo e preparar a vinda de um Salvador divino. Essa Palavra foi dada por meio de servos escolhidos e codificada em textos escritos que agora chamamos de Bíblia Hebraica, ou seja, o Antigo Testamento. O que foi prometido e prefigurado nas Escrituras do Antigo Testamento se cumpriu em Cristo. Embora muitas das prescrições do Antigo Testamento, incluindo a adoração no templo e o sacrifício de animais, não sejam mais necessárias, seus princípios espirituais não foram abolidos. Eles permanecem válidos para os cristãos, que foram unidos ao povo de Israel com base na fé que compartilhamos com Abraão. Os cristãos crentes formam uma grande família, o reino de Deus, que se estende até aos limites extremos do mundo, e a pregação do evangelho cristão traz bênçãos a todos os que o ouvem e creem nele. Aqueles que pertencem à etnia judaica, mas não aceitaram a Cristo, não recebem as bênçãos prometidas aos seus ancestrais, mas, apesar disso, retêm um lugar especial no plano e propósitos de Deus que será plenamente revelado no final dos tempos. A Igreja, portanto, tem a obrigação de compartilhar a mensagem de Jesus como o Messias, Salvador e Senhor, com o povo judeu. A incorporação destes à igreja cristã acontece na mesma base da incorporação dos não judeus.

5. O Pai, o Filho e o Espírito Santo formam uma Trindade de pessoas iguais

Em Jesus Cristo, Deus se revela como uma Trindade de pessoas, tornando o cristianismo singular entre as religiões monoteístas do mundo. Deus não é uma substância simples solitária, e sim uma Trindade, constituída de Pai, Filho e Espírito Santo, que vivem em comunhão pessoal eterna. É por causa disso que os seres humanos, criados à imagem e semelhança de Deus, têm senso de sua própria identidade pessoal e relacionamento com Deus e com as outras pessoas. A distinção individual inerente à identidade pessoal, quer humana, quer divina, está fundamentada nas distinções das três pessoas divinas, que subsistem eternamente em um único Deus.

O Pai, o Filho e o Espírito Santo são completa e igualmente Deus em si mesmos, não por derivação, transferência ou herança do Pai ou de qualquer outro. Eles compartilham de uma natureza divina comum; e, porque existe apenas um único Deus, é inadequado alguém afirmar que conhece uma das pessoas sem conhecer todas as três. As pessoas divinas se relacionam mutuamente em maneiras que são distintas a cada uma delas, mas são caracterizadas pelo denominador comum do amor. É por amar o Filho que o Pai lhe deu toda a autoridade no céu e na terra. É por amar o Pai que o Filho se deu voluntariamente em sacrifício por nós, para que vivamos com Ele no céu, como o Pai deseja. É por amar tanto o Pai como o Filho que o Espírito Santo vem ao mundo, não primariamente para falar de si mesmo, mas sim para dar testemunho dEles e trazer-nos à vida comum dEles. Finalmente, pelo fato de que somos pessoas, criados à imagem de Deus, podemos receber esse amor, relacionar-nos com Deus nesse amor e manifestar esse amor em todos os nossos relacionamentos pessoais.

6. No Antigo Testamento, Deus fala na pessoa do Pai

No Antigo Testamento, Deus fala como uma única pessoa, a quem o Novo Testamento iguala com o Pai de Jesus Cristo, embora o termo “Pai” não fosse normalmente usado para falar sobre Deus em Israel. Entretanto, é claro que o Deus do Antigo Testamento é tanto soberano como invisível em uma maneira que está em pleno acordo com a pessoa do Pai revelada a nós por Jesus. O Pai é Aquele cuja vontade Jesus (como Filho) veio cumprir e obedecer; é também a pessoa da Divindade que se mantém permanentemente invisível e transcendente em todo o tempo. O Filho e o Espírito Santo não são revelados explicitamente no Antigo Testamento, mas se encontram eternamente presentes em Deus e participam plenamente de todos os seus atos, em especial da grande obra de criação, e há muitas referências à pessoa e à obra do Messias prometido, bem como para com a obra do Espírito de Deus entre o povo de Deus e amplamente no mundo.

7. Deus se revela plena e finalmente em Jesus

Deus falou plena e finalmente em Jesus Cristo, que cumpriu a antiga aliança feita com Israel e com todos os eleitos de Deus. Ele é tanto o profeta como a Palavra, tanto o sacerdote como o sacrifício, tanto o rei como o reino. Nenhuma revelação adicional de Deus é necessária porque Jesus é, Ele mesmo, Deus em carne humana. Em Jesus Cristo, Deus se revelou como o Filho, que identificou a primeira pessoa como seu Pai e prometeu que, depois de sua partida, enviaria a terceira pessoa, o “outro Consolador”, que as Escrituras chamam de o Espírito Santo. Portanto, o fato de que há três pessoas no único Deus é intrínseco ao ensino de Cristo.

8. Deus se revela a nós em linguagem que podemos compreender

Visto que Deus condescendeu em usar linguagem humana e que a pessoa do Filho se tornou um homem, é possível falarmos sobre Ele em termos humanos. Os primeiros discípulos podiam ter descrito a aparência física de Jesus, mas não o fizeram. O Novo Testamento não nos dá qualquer incentivo específico a fazermos retratos ou estátuas de Jesus, quer como auxílios à adoração, quer como recordações de sua presença na terra. Nenhuma figura ou retrato dramático de Jesus possui qualquer autoridade em si mesmo; e tais coisas nunca devem se tornar objetos de veneração ou adoração, mas podem ser úteis em outras formas.

II. O pecado e o mal

1. A origem do mal

Deus fez todo o universo muito bom. Deus não é o autor do mal, e sua santidade não é comprometida pela existência do mal. O mal se originou na rebelião de Satanás e de alguns anjos. Parece que o orgulho foi a raiz da queda deles. Os anjos caídos são chamados demônios e liderados por Satanás. Eles se opõem à obra de Deus e procuram frustrar seus propósitos. No entanto, Deus permanece soberano sobre os poderes do mal e usa as ações deles para levar adiante seu plano de salvação. Os demônios não devem ser adorados nem servidos de maneira alguma. A atividade deles está por trás das falsas religiões, e Satanás cega as mentes humanas em relação à verdade.

2. O mal e a humanidade

O mal se introduziu na vida humana por meio do pecado dos primeiros seres humanos no Jardim do Éden. Adão é o progenitor de toda a raça humana, e, por isso, todo ser humano tem de sofrer as consequências do pecado dele, que incluem um mundo em desordem e a morte física. Adão e Eva estabeleceram-se a si mesmos no lugar de Deus e ofereceram sua lealdade a Satanás. Sucumbir à tentação de ser como Deus tem consequências de alcance amplo. Roubar de Deus a glória que Lhe é devida leva à eliminação das distinções estabelecidas por Ele, e envolve a transgressão do domínio das coisas divinas, a ab-rogação da distinção macho-fêmea ordenada por Deus e a confusão entre seres humanos e animais. Por usar aquilo que é bom por razões erradas, apareceram na sociedade humana caos, tensão e sofrimento.

3. Os efeitos do pecado na vida humana

Os seres humanos unem forças com agentes sobrenaturais que têm produzido males horríveis como genocídios, abuso do poder, guerras mundiais, vários tipos de terrorismo, psicopatas assassinos, tráfico de seres humanos, abuso de drogas e todos os tipos de violência. Sem subestimar e desprezar a importância da criatura humana, essas ultrajantes formas de mal são propagadas e orquestradas por forças demoníacas, resultando em que os seres humanos são divididos, destruídos e trazidos ao nível de animais em seus pensamentos e comportamento. O mal é dirigido não somente à destruição da criação e da imagem de Deus nos descendentes de Adão, mas também à supressão da igreja e da verdade de Deus. Embora os demônios não se multipliquem, nem possam ser destruídos pelos humanos, somos chamados a resistir ao mal, à injustiça, à opressão e à violência que os demônios usam para cumprir seus propósitos, enquanto aguardamos e oramos pela volta de Jesus Cristo, que trará um fim a todas essas coisas.

4. A universalidade do pecado e suas consequências

Em Adão todos morrem, e a morte se propagou a todos os homens porque todos pecaram. Toda a raça humana está implicada na queda e em suas consequências: pecado, alienação, violência, guerra, doença, sofrimento e morte. Falando em categorias espirituais, todos os seres humanos são mortos, porque estão em rebelião contra Deus e destituídos de suas bênçãos. Embora os seres humanos caídos possam descobrir muitas verdades, falta-lhes a estrutura necessária para entenderem-nas como aspectos da verdade de Deus. Como pecadores, eles se recusam a aceitar as consequências da verdade que já têm e, em vez disso, suprimem-na por sua impiedade. A morte física está em operação neles até que retornem ao pó, do qual foram criados. Se Deus não intervier graciosamente, a morte espiritual se tornará morte eterna.

III. A pessoa e a obra de Cristo

1. A glória de Cristo

No centro do cristianismo está a pessoa de Jesus Cristo. Sua glória e grandeza são tais que adorá-lo e exaltá-lo é tanto o dever como o desejo de cada crente.

 2. O Filho de Deus encarnado é uma pessoa divina com duas naturezas

A pessoa divina do Filho de Deus, a segunda pessoa da Trindade Santa, assumiu uma natureza completamente humana no ventre da virgem Maria e nasceu como o homem Jesus de Nazaré. Ele agora tem duas naturezas, uma divina e uma humana, que permanecem inteiras e distintas em si mesmas, mas são ao mesmo tempo unidas em e por sua pessoa divina. Visto que sua natureza divina, que Ele compartilha com o Pai e com o Espírito Santo, não pode sofrer ou morrer, o Filho adquiriu a natureza humana a fim de pagar o preço do pecado humano e reconciliar-nos com Deus. Na cruz, foi a pessoa do Filho, em suas duas naturezas, que sofreu e morreu.

3. O Filho de Deus encarnado é um verdadeiro ser humano.

Encarnado como Jesus de Nazaré, o Filho de Deus se tornou um verdadeiro ser humano. Ele possuía uma mente e uma vontade humanas, e teve uma constituição psicológica normal, enquanto retinha sua natureza divina. Ele foi tentado da mesma maneira como qualquer outro ser humano, mas não caiu em pecado.

4. O Filho de Deus encarnado foi perfeitamente capaz de reconciliar-nos com o seu Pai

O homem Jesus Cristo foi capaz de carregar o nosso pecado na cruz e pagar o preço de nosso pecado, não por causa de qualquer superioridade natural ou objetiva a nós, mas sim porque foi perfeitamente obediente ao seu Pai e, portanto, completamente sem pecado. Ao tornar-se pecado por nós, Ele pôde cancelar o nosso débito para com Deus, sem incorrer em qualquer culpa que o teria separado de seu Pai. A obra redentora de Cristo garantiu a salvação de todos que foram escolhidos nEle antes da fundação do mundo.

5. A natureza do corpo ressurreto de Cristo

Depois de três dias no sepulcro, Jesus de Nazaré ressurgiu dos mortos com uma natureza humana transformada, mas ainda reconhecível. Seu corpo ressuscitado era capaz de transcender leis físicas naturais, mas ainda retinha suas propriedades físicas. Em sua ascensão, aquele corpo foi transformado para o estado celestial que Ele ainda possui e como foi recebido por Deus. Os seres humanos serão ressuscitados, não como Jesus o foi na manhã do domingo da Páscoa, mas como Ele é agora, em seu estado de ascensão.

IV. A pessoa e a obra do Espírito Santo

1. O Espírito Santo como pessoa da Trindade

O Espírito Santo está envolvido na obra de criação e redenção, juntamente com o Pai e o Filho. Em particular, o Filho encarnado foi concebido pelo Espírito Santo, ungido com o Espírito Santo e recebeu poder do Espírito Santo para realizar seu ministério público na terra.

2. A obra do Espírito Santo na redenção

O Espírito Santo aplica a obra de redenção do Filho a crentes individuais, unindo-os a Cristo, o seu cabeça, e uns aos outros. Ele é o grande agente da adoção de crentes na família de Deus, dando-lhes a segurança interior de que foram escolhidos pelo soberano poder de Deus. O Espírito Santo auxilia, ensina, guia e dirige os crentes de acordo com a vontade e o caráter revelados de Deus. Ele santifica os crentes por produzir seu fruto neles e intercede constantemente por eles em oração ao Pai.

3. O envio do Espírito Santo no Pentecostes

A vinda do Espírito no Pentecostes foi o começo de uma nova obra de Deus na vida dos crentes e levou à fundação da igreja cristã. Os dons extraordinários de revelação dados naquele tempo foram sinais únicos do começo da era messiânica, e não podem ser reivindicados automaticamente ou exigidos como prova decisiva do poder de Deus em operação hoje.[1] Os dons permanentes e diversos do Espírito Santo devem ser buscados em humildade, de acordo com sua vontade, para glorificar a Deus no serviço que visa ao bem comum da igreja.

4. O Espírito Santo e o avivamento espiritual

O poder do Espírito Santo continua a ser manifestado de maneiras especiais durante os tempos de avivamento espiritual que ocorrem periodicamente na vida da igreja. Esses tempos de despertamento e refrigério espiritual promovem a expansão do reino de Deus, por tornar as pessoas mais conscientes de sua pecaminosidade e trazê-las a Cristo de maneira nova e mais profunda. Nesses tempos, os crentes são recordados da presença do Espírito Santo, tornando-se mais cônscios da obra dEle em suas vidas e dos dons do Espírito que lhes são outorgados. O avivamento espiritual é, em especial, eficaz em trazer o povo de Deus de volta a Ele, por reformar a igreja, que está em perigo constante de afastar-se dEle. No entanto, a obra do Espírito Santo evidente em tempos de avivamento espiritual está sempre presente na igreja, e os crentes devem orar fervorosamente por esses frutos e dons em todos os tempos.

5. O Espírito Santo e a guerra espiritual

O Espírito Santo combate ativamente Satanás e seus demônios, protegendo deles os crentes. O Espírito Santo livra homens e mulheres da opressão e possessão demoníaca, equipando-os com as armas espirituais de que necessitam para resistir ao poder do Diabo. A Bíblia proíbe o crente de demonstrar interesse pelas forças das trevas e suas obras.

IV. A obra de Deus na salvação

1. Graça comum

Deus exerce graça comum para toda a humanidade, bem como a graça especial pela qual as pessoas chegam à salvação. Por meio dessa graça comum, o pecado é restringido, os seres humanos pecadores recebem bênçãos de Deus e são capacitados a fazer coisas boas. Essa graça comum provê um fundamento para a sociedade humana e capacita o trabalho nas artes e nas ciências. É o Espírito Santo que capacita esse trabalho nas artes e nas ciências; por conseguinte, o progresso cultural e a civilização humana são dons de Deus, que se tornam possíveis apesar da queda da humanidade no pecado.

2. A chamada e a eleição de Deus

Deus chama os homens a que se arrependam e creiam. Ninguém pode responder a essa chamada sem a obra do Espírito Santo. Ainda que muitos possam receber oralmente a mensagem ou lê-la diretamente na Bíblia ou indiretamente na literatura cristã, nem todos são escolhidos. Em vez de abandonar a raça humana em sua condição humana, Deus elegeu soberana e graciosamente alguns para a vida eterna. Somente aqueles cuja mente e coração são iluminados pelo Espírito Santo são capacitados a aceitar os dons prometidos de perdão dos pecados e aceitação com Deus.

3. A natureza da regeneração

Por meio da obra do Espírito Santo, alguém que antes era um pecador morto recebe vida de Deus; e a implantação dessa vida resulta em uma nova orientação para com Deus e sua justiça. O ensino da Escritura é que, sem essa mudança que produz santidade, ninguém verá a Deus. Ainda que essa obra regeneradora produza mudanças no caráter, os cristãos são pessoas singulares, pois, embora todos possuam o Espírito Santo, eles são todos diferentes. O que eles compartilham em comum é a implantação da nova vida; e isso significa que agora estão em união espiritual indissolúvel com Cristo. O Novo Testamento expressa isso dizendo que os cristãos estão “em Cristo”, ou seja, eles se tornam “herdeiros de Deus e coerdeiros com Cristo”. Porque estão unidos assim com Cristo, em quem estão ocultos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento, os cristãos são completos n’Ele. Todos os cristãos crentes têm o Espírito de Cristo; e a união com Cristo também significa que eles estão em um relacionamento vital uns como os outros. Compartilham da salvação comum, têm alvos e aspirações comuns.

4. Os efeitos da regeneração

A obra de Deus na regeneração não precisa de repetição. Havendo sido justificado com Deus, o novo cristão demonstra essa mudança de status por uma mudança em sua condição espiritual. A conversão marca o começo consciente de uma nova vida, de modo que os novos crentes começam a viver de acordo com sua nova natureza, com as afeições fixadas nas coisas espirituais e eternas. No âmago da nova vida estão o arrependimento e a fé, os quais estão unidos como a expressão da conversão.

5. A fé

A graça de crer é um dom de Deus. Então, a fé é um ato de receber as bênçãos da salvação por meio da crença pessoal em, e compromisso com, Cristo, o Salvador. A fé é o instrumento pelo qual a revelação divina e todas as bênçãos prometidas são assimiladas, recebidas e desfrutadas. É uma convicção de que a mensagem da Bíblia é verdadeira e de que a apropriação pessoal dos méritos e da obra de Cristo é essencial. A verdadeira fé descansa em seu objeto, Jesus Cristo, que é recebido como Salvador; e, por um ato de entrega, a alma descansa somente nEle para a salvação.

6. A justificação

A justificação é o ato de Deus posterior à chamada eficaz realizada pelo Espírito Santo e a resposta consequente de arrependimento e fé da parte dos pecadores: “Aos que chamou, a esses também justificou”. Na justificação, Deus declara os pecadores justos perante Ele, considerando os seus pecados perdoados e reputando a justiça de Cristo como pertencente a eles. A justificação não é uma simulação da parte de Deus, afirmando que os pecadores são justos quando, de fato, eles são culpados. Para que a justificação seja real e consistente com a santidade de Deus, ele precisa ter uma base meritória. Tem de haver uma justiça real, que Deus reconhece em sua declaração de justificação. Os pecadores são justificados com base em uma justiça suprida por outrem, a justiça do Senhor Jesus Cristo, que é contada como pertencente a eles. Essa imputação da justiça de Cristo é fundamental à fé cristã.

7. A justiça de Cristo é a base de nossa justificação

A justiça de Cristo envolve sua vida de perfeita obediência a cada mandamento da lei de Deus e sua morte na cruz, pela qual Ele suportou a penalidade da ira de Deus devida aos pecados de todo o seu povo, uma obra selada por sua ressurreição triunfante. Os crentes compartilham agora do status de justos como Cristo, que satisfez todas as exigências da lei de Deus, em lugar e em favor deles. A base da justificação dos pecadores é unicamente a perfeita justiça de Cristo.

8. A harmonia entre Paulo e Tiago em seus ensinos sobre a justificação

Não há nenhum conflito entre o ensino de Paulo e o de Tiago no que concerne à justificação. Paulo escreve sobre a justificação como perdão e aceitação diante de Deus. Tiago insiste que a justificação é real e se mostrará em uma vida de obediência.

9. A adoção dos crentes em Cristo

A posição de Cristo como eterno Filho de Deus não-criado é única. No entanto, Ele não se envergonha de chamar seus irmãos àqueles que salvou. Esses filhos de Deus adotados são herdeiros da herança que Cristo obteve para eles, a plena medida das bênçãos da redenção. Por isso, eles são descritos como “herdeiros de Deus e coerdeiros com Cristo”.

Como filhos de Deus, os crentes compartilham de todas as bênçãos providas por Deus para a sua família. Como resultado do testemunho interno do Espírito Santo, eles reconhecem e se dirigem a Deus como Pai. Eles são objetos do amor de Deus, de sua compaixão, de seu cuidado pelas necessidades deles. Os filhos de Deus têm o privilégio de compartilhar dos sofrimentos de Cristo e de sua glorificação subsequente. Os filhos de Deus têm outro privilégio, que confirma a sua adoção: a experiência da disciplina paternal de Deus. Eles são assegurados de que Deus os “trata como filhos; pois que filho há que o pai não corrige?”. A unidade dos filhos de Deus em um corpo é também um privilégio a ser desfrutado e uma responsabilidade que exige amor e ministério mútuos.

As bênçãos plenas da adoção não serão experimentadas enquanto não houver o glorioso retorno do Senhor Jesus Cristo. A adoção tem uma dimensão presente, mas também uma dimensão escatológica, que é um elemento da esperança cristã. Portanto, “também nós, que temos as primícias do Espírito, igualmente gememos em nosso íntimo, aguardando a adoção de filhos, a redenção do nosso corpo”. A adoção não será completa enquanto Cristo não der a seu povo novos corpos, na ressurreição, quando os crentes desfrutarão “a liberdade da glória dos filhos de Deus” juntamente com a criação renovada.

10. A obra do Espírito Santo em santificar

O Espírito Santo opera na vida daqueles que foram justificados e adotados para torná-los santos e transformá- los na semelhança de Cristo. A obra de Deus no crente inclui tanto o querer como o realizar o que Ele exige. Obediência ativa aos mandamentos do Senhor é essencial. A santificação exige mortificar tudo que é pecaminoso na vida humana. Também exige que sejam desenvolvidos novos hábitos e padrões de pensamento e viver piedosos.

11. A obtenção da perfeição cristã

Durante esta vida, nenhum crente está completamente livre do pecado, e a santificação progride em níveis variáveis. A obra de Deus em disciplinar seus filhos também contribui à santificação deles. A obra de santificação será completada pelo poder e a graça de Deus. O espírito é plenamente santificado por ocasião da morte, unindo-se “aos espíritos dos justos aperfeiçoados”. Na ressurreição, o corpo do crente compartilhará dessa perfeição e será tornado semelhante ao corpo glorioso de Cristo. Por fim, cada crente portará a imagem do homem “celestial”.

VI. A vida cristã

1. A espiritualidade autêntica

A espiritualidade cristã é um processo que dura toda a vida, caracterizada por reverência e amor profundos a Deus; e isso se expressa em um relacionamento correto com os nossos semelhantes humanos. A piedade cristã é prática e leva à transformação na semelhança com Cristo. Não se direciona ao ego nem à busca de uma força impessoal; não visa atingir um estado de existência nebuloso ou estados alterados de consciência. Ela cresce em união pactual com o Deus trino e em comunhão de progresso contínuo com o povo de Deus no mundo. É o resultado da genuína regeneração espiritual mantida e governada pelo Espírito Santo.

2. Os meios de piedade

O Espírito Santo produz piedade em nós ao supervisionar a nossa convergência à Palavra de Deus, ensinar-nos obediência e unir-nos na comunhão coletiva de todos os crentes, na verdadeira adoração a Deus, em nosso testemunho ao mundo, em provações, sofrimentos e na confrontação com o mal.

3. Os resultados da piedade

Os resultados da piedade incluem mente, coração, palavras e ações transformadas, desejo de orar e uma vida que cresce continuamente à imagem de Cristo. A piedade produz um crescimento vitalício na autorrenúncia, um tomar diariamente a cruz e seguir a Cristo, praticando o amor, a paciência, o perdão, a gentileza, a compaixão e a bondade para com todos, especialmente para com aqueles que pertencem à família cristã. Envolve a entrega contínua de nós mesmos em devoção total a Deus, experimentando alegria indizível, temor filial, profunda reverência altruísta, amor intenso, compaixão e ousadia comedida, equilibrados com humildade, respeito, contentamento, confiança sincera, obediência, esperança crescente e a paz de Deus em meio às provas, tristezas e sofrimentos.

4. Experiências espirituais

Uma vida espiritual centrada em Deus recebe as experiências espirituais como um dom do Espírito Santo. À medida que procuramos nos achegar ao Deus trino, somos recordados de que estamos sempre vivendo em sua presença, onde quer que estejamos. Por isso, somos motivados a cumprir nossa chamada para sermos instrumentos de sua graça transformadora onde quer que sua providência nos tenha colocado. A experiência de nossa união pactual com Deus nesta vida é um antegozo da glória da comunhão com Deus na era por vir.

VII. A Escritura Sagrada

1. As Escrituras foram trazidas à existência por Deus, o Espírito Santo

As Escrituras são inspiradas por Deus, havendo sido escritas quando homens falaram da parte de Deus, sendo guiados pelo Espírito Santo. As Escrituras são a Palavra de Deus e completamente dignas de confiança. Na forma em que foram dadas originalmente, elas não contêm erros em tudo que afirmam – essa doutrina tem sido chamada de “inerrância bíblica” por muitos teólogos reformados. Deus supervisionou a obra de escrita delas, de modo que elas são precisamente o que Ele tencionou que fossem. Havendo resolvido usar seres humanos, Deus não anulou a humanidade deles nem ditou as Escrituras para eles. Por isso, as Escrituras revelam a história pessoal e o estilo literário de cada autor e as características do período em que foram escritas, enquanto permanecem, em cada aspecto, a Palavra de Deus mesmo.

2. As Escrituras são reconhecidas pela obra de Deus, o Espírito Santo

As Escrituras manifestam muitas qualidades excelentes que as recomendam a nós, mas, em última análise, nossa completa persuasão e certeza de sua autoridade e verdade infalível procede do Espírito Santo, que testemunha por e com a Palavra em nosso coração. É ao crente habitado pelo Espírito Santo que as Escrituras manifestam sua autenticidade como a Palavra de Deus. A igreja cristã recebeu o cânon hebraico desta maneira e foi capacitada a reconhecê-lo como seu cânon autorizado. As Escrituras não obtêm sua autoridade da igreja nem de qualquer outra fonte, exceto de Deus mesmo.

3. As Escrituras são entendidas por meio da obra de Deus, o Espírito Santo

As Escrituras possuem uma clareza fundamental, mas somente os cristãos crentes podem receber e entender seu significado e importância espiritual, tendo acesso à mente de Cristo. A queda da humanidade no pecado afetou a mente, bem como a vontade e as emoções. A cegueira espiritual resultante deixou os seres humanos incapazes de entender as coisas de Deus sem a obra do Espírito Santo. Quando seres humanos são chamados eficazmente e regenerados, o Espírito Santo começa a abrir as Escrituras ao entendimento deles. Em sua sabedoria, o Espírito Santo lhes revela o verdadeiro significado da revelação de Deus.

4. As Escrituras são aplicadas por Deus, o Espírito Santo

Deus traz homens e mulheres a si mesmo por meio da pregação de sua Palavra. O Espírito Santo usa a pregação, o ensino e o estudo das Escrituras para nos tornar sábios para a salvação pela fé em Cristo Jesus e dar-nos sua mente. Sendo pregadas ou lidas, as Escrituras são proveitosas para o ensino, a repreensão, a correção, a educação na justiça, a fim de que sejamos habilitados para toda boa obra e mostremos um estilo de vida que honra a Deus. Assim, as Escrituras fornecem o alicerce, a confirmação e a regulação de nossa fé.

5. As pressuposições que governam a interpretação da Escritura

A Escritura Sagrada é a Palavra de Deus e, por isso, não pode contradizer a si mesma. Nossa leitura, interpretação, entendimento e aplicação da Escritura são influenciados, em vários níveis e graus, pelas convicções prévias ou pressuposições a respeito de Deus e da Bíblia. A fim de entendê-la corretamente, é necessário que sejamos cônscios de nossas pressuposições e as examinemos à luz do texto bíblico, para que as corrijamos e as coloquemos em maior harmonia com o sentido do próprio texto. Visto que as Escrituras reivindicam origem e inspiração divinas, somente os métodos interpretativos que adotam com seriedade essas reivindicações podem chegar ao verdadeiro significado das Escrituras.

6. A clareza da Escritura

A necessidade do estudo erudito das línguas originais da Bíblia não anula a clareza ou a autoridade divina e a confiabilidade da Escritura. As verdades necessárias à salvação são expressas tão claramente na Escritura que tantos os leitores bem instruídos como os leitores comuns podem e devem entendê-las. A mensagem da Escritura tem de ser exposta em face das filosofias e opiniões que desafiam suas pressuposições e a estas se opõem. Ao defender a cosmovisão bíblica contra esses oponentes, a clareza do significado da Escritura é obtida não somente por uma comparação diligente de um texto bíblico com outro, mas também por examinar o sentido do seu oposto.

7. Os métodos apropriados de interpretação

A Bíblia é a Palavra de Deus e tem de ser lida com submissão humilde e oração por iluminação do Espírito Santo. Visto que ela foi escrita dentro de contextos temporais, culturais e sociais específicos, seu significado deve ser buscado pelo uso de regras gerais de interpretação e pela ajuda de campos de conhecimento relacionados, como arqueologia, história, crítica textual e pelo estudo das línguas originais. Todos esses métodos têm de levar em conta a origem divina, a infalibilidade e o caráter humano da Escritura.

8. O significado de um texto bíblico

Um texto bíblico pode ter muitas aplicações e implicações práticas diferentes, mas seu significado primário é geralmente determinado pelo uso cuidadoso dos princípios históricos, gramaticais e histórico-redentores já descritos no parágrafo anterior. Interpretações alegóricas, espirituais e simbólicas não têm qualquer autoridade, a menos que sejam aprovadas especificamente pelo próprio texto bíblico.

9. A universalidade da verdade e sua aplicação

A verdade de Deus revelada na Escritura é universal, eterna e relevante para todas as culturas, idades e pessoas. Entretanto, pode haver várias e diferentes aplicações dessa verdade. Ao contextualizar a Palavra de Deus, a igreja deve fazer distinção entre os princípios bíblicos que são as manifestações eternas e universais da verdade de Deus e as implicações práticas desses princípios; e isso pode variar em contextos diferentes. Ela deve sempre assegurar-se de que suas aplicações são legítimas e extensões corretas dos princípios fundamentais e imutáveis.

10. O padrão normativo da auto-revelação de Deus nos tempos pós-bíblicos

Desde a conclusão do cânon do Novo Testamento, o padrão normativo de Deus tem sido que Ele fala conosco em e por meio das Escrituras Sagradas, com a iluminação do Espírito Santo, que habita em nosso coração e nos revela tanto o Pai como o Filho. Aqueles que ouvem a voz do Espírito recebem a herança prometida a nós no Filho e, com a ajuda do Espírito Santo, fazem a vontade de Deus em sua vida. Para nos ensinar o que isso significa e guiar-nos enquanto procuramos colocar em prática a vontade de Deus, o Espírito Santo nos deu textos escritos que nos instruem, desafiam e encorajam ao longo de nossa jornada. Em adição aos textos do Antigo Testamento, esses textos são as revelações dadas aos seguidores de Cristo por e com a aprovação dos doze discípulos que viram a Jesus após a sua ressurreição dos mortos e que Ele designou para liderarem e instruírem a igreja. Os textos foram coletados pelos primeiros cristãos, que os reconheceram como portadores de plena autoridade do próprio Deus, e foram unidos como o Novo Testamento. Nenhum mestre ou nenhuma igreja cristã tem o direito de insistir em crenças que não estejam contidas nesses textos ou de interpretar qualquer desses textos de um modo que contradigam o que Deus revelou de si mesmo em outras partes da Escritura.

VIII. A igreja

1. Sua natureza

A igreja é tanto a companhia invisível de todos os cristãos (conhecidos somente por Deus), como a igreja visível na terra, em suas muitas comunidades. A igreja é o espiritual e sobrenatural corpo de Cristo, que é o Cabeça da igreja. Todo cristão está unido a Cristo e ligado a cada outro cristão por Deus, constituindo assim a igreja. Na vida da única igreja católica, apostólica e santa, a adoração a Deus, a comunhão, as Escrituras Sagradas, as ordenanças e missões são centrais.

2. Os ministros da igreja

A Escritura indica certo número de ministros que Deus outorga à igreja em diferentes épocas: apóstolos, profetas, presbíteros, diáconos e evangelistas. Hoje, em cada igreja local, tem de haver presbíteros e diáconos. Os presbíteros devem ser os pastores, supervisores e exemplos; e alguns deles devem dedicar-se à pregação e ao ensino. Os diáconos devem cuidar dos pobres e necessitados e atender às necessidades práticas, financeiras e materiais da igreja. Assim como no caso do presbiterato, o diaconato é um ofício espiritual que exige qualidades espirituais.

3. Culto a Deus

A responsabilidade primária da igreja é o culto a Deus. A natureza e o conteúdo desse culto são determinados pelo próprio Deus e revelados para nós nas Escrituras. Deve incluir o cantar louvores a Deus, a leitura e a pregação das Escrituras e as orações.

4. A autonomia da congregação local

Cada congregação de crentes possui certo grau de autonomia sob a liderança dos presbíteros, mas há também uma unidade mais ampla com todas as outras congregações. Essa inter-relação tem sido expressa em maneiras diferentes, em épocas diferentes, em partes diferentes da igreja.[2]

5. Os sacramentos

Um sacramento é um sinal visível de uma graça interior e invisível. É instituída por Cristo e representa a obra de Cristo. As igrejas protestantes reconhecem somente dois sacramentos: o batismo e a Ceia do Senhor (ou Eucaristia ou Santa Comunhão). Esses são frequentemente identificados com os dois sacramentos da igreja do Antigo Testamento: a circuncisão e a Páscoa. O batismo é um rito de introdução na igreja cristã. Deve ser ministrado com o uso de água. A Ceia do Senhor aponta para a morte de Cristo na cruz, usando o pão e o vinho como símbolos do corpo e do sangue de Cristo. Este também concede aos crentes uma oportunidade para o fortalecimento da fé, a comunhão em Cristo e alimento espiritual, enquanto proclamando a morte do Senhor até que ele venha.[3]

IX. A Tradição

1. A existência e a validade das tradições apostólicas

Toda igreja cristã vive de acordo com a regra de fé herdada da era apostólica. As Escrituras Sagradas são a única forma singularmente autêntica e normativa dessa regra, pela qual todas as outras crenças e práticas têm de serem medidas. As igrejas apostólicas tinham, sem dúvida, costumes que não são relatados na Escritura ou recomendados por ela, mas essas tradições não estão impostas aos cristãos de gerações posteriores. De modo semelhante, embora seja possível que os escritos perdidos dos apóstolos sejam achados algum dia, eles não serão considerados como Escritura Sagrada porque não foram legados do tempo dos apóstolos como parte da regra normativa.

2. A autoridade de credos e confissões

Durante o curso de sua história, a igreja tem adotado credos e confissões de fé para esclarecer o ensino das Escrituras. Esses documentos e outras decisões semelhantes de vários grupos eclesiásticos gozam da autoridade possuída por aqueles que os adotaram e têm de ser considerados e respeitados pelas gerações posteriores. No entanto, eles não são infalíveis e, nos pontos que puderem ser mostrados como discordes do ensino da Escritura e nos quais o ensino pode ser mais claramente expresso de maneira diferente, a igreja é livre para alterá-los.

3. A resposta dos reformadores às tradições herdadas

Os reformadores do século XVI empreenderam uma revisão completa das tradições da igreja e abandonaram aquelas crenças e práticas que eram claramente contrárias ao ensino da Escritura. Alguns foram mais além, descartando tradições que não eram apoiadas pela Escritura, embora não fossem necessariamente contrárias a ela. Um exemplo disso foi a celebração do Natal em 25 de dezembro, que não tem base bíblica, mas testemunha claramente quanto à doutrina neotestamentária da encarnação de Cristo. Tradições desse tipo podem ser retidas, modificadas ou descartadas à discrição da igreja local, contanto que com isso não comprometa nenhuma doutrina bíblica.

4. Padrões de culto e de governo da igreja

Toda igreja desenvolve padrões de culto e de governo que, com o passar do tempo, se tornam suas próprias tradições. Enquanto essas práticas não forem contrárias ao ensino da Escritura e continuarem a cumprir a tarefa para a qual foram inicialmente planejadas, não há razão para que não sejam mantidas. Entretanto, cada igreja local é livre para modificar essas tradições, como achar conveniente. Em específico, igrejas que surgiram da atividade de missionários estrangeiros podem ter herdado deles práticas que não são facilmente nacionalizadas. Igrejas desse tipo têm uma responsabilidade especial de examinar a base bíblica desses costumes transplantados e devem ser encorajadas a modificá-los, se, ao fazerem isso, podem tornar o testemunho do evangelho mais eficaz em suas circunstâncias. Contudo, nenhuma igreja deve abolir, modificar ou adotar qualquer tradição ou prática sem considerar os efeitos que tal mudança pode causar no testemunho da comunidade cristã como um todo.

5. A retenção conveniente de certas tradições

Algumas tradições se tornaram tão profundamente arraigadas e universais no mundo cristão, que mudá-las não resultaria em nada proveitoso e levaria a uma divisão desnecessária na igreja. Um bom exemplo disso é o costume do culto a Deus no domingo, que, embora claramente praticado na igreja primitiva, não é ordenado especificamente no Novo Testamento. Há circunstâncias em que grupos específicos de cristãos, por exemplo, em países islâmicos, podem achar mais conveniente cultuar em outro dia da semana, mas nenhuma igreja deveria impor sobre si o abandono do culto no domingo apenas porque ele não é especificamente requerido pela Escritura. Em casos desse tipo, a unidade visível do mundo cristão deve ser mantida, se isso não compromete nenhum princípio teológico.

X. Missões e evangelização

1. Nossa chamada para sermos testemunhas de Deus por atos e palavras

Nossa missão no mundo flui de nossa paixão pela glória de Deus e de nossa certeza da vinda do seu reino. A igreja, como comunidade de Cristo, é o instrumento de Deus para evangelização, que é a pregação e o compartilhar do evangelho de Jesus Cristo, tanto por palavras como por atos – a mensagem de que Cristo morreu por nossos pecados e ressuscitou dos mortos, conforme as Escrituras, e de que Ele, como o Senhor que reina, oferece agora perdão do pecado, vida eterna e os dons do Espírito a todos que se arrependem e creem. Em obediência à comissão de nosso Deus, temos de apresentar duas mãos às pessoas: (1) a mão que as chama ao arrependimento, à fé e à reconciliação eterna com Deus, por meio de Cristo; e (2) a mão que manifesta obras de misericórdia e compaixão, estendendo a bondade do reino de Deus na terra, em nome de Cristo. Esse é o exemplo que Cristo mesmo nos deu e proclama que somos conformados à imagem de Cristo e recebemos o Espírito Santo como as primícias e garantia da nova criação de Deus.

2. A extensão da chamada a realizarmos missões

Nossa proclamação do evangelho tem consequências sociais, quando chamamos as pessoas a amar a Deus e ao arrependimento em todas as áreas da vida. De modo semelhante, nosso envolvimento social tem consequências evangelísticas, quando damos testemunho da graça transformadora de Jesus Cristo. Se ignorarmos o mundo, traímos a grande comissão pela qual Deus nos envia a servir ao mundo. Se ignorarmos essa comissão, nada temos a oferecer ao mundo. Nossa obediência a Deus estimula nosso zelo por missões, ao fazer-nos confiar totalmente nele. Isso torna o nosso testemunho tanto ousado como amável, atraindo a atenção dos incrédulos.

3. A compaixão dos cristãos para com o mundo

Afirmamos a grande necessidade de que, em nome de Cristo, os cristãos sejam vestidos de compaixão em meio à pobreza, doenças, injustiça e todas as formas de infelicidade humana. Estamos preocupados com o fato de que há milhões de pessoas neste mundo que vivem em pobreza extrema. A chamada para vestir-nos de compaixão implica que somos chamados a andar com o pobre e transmitir a graça transformadora de Deus, com uma qualidade de vida espiritual que nos permite entrar numa comunidade sofredora, não como salvadores, e sim como servos de Cristo, o Salvador.

4. A transformação da comunidade humana

Entendemos que a transformação da comunidade é a reversão abrangente dos efeitos do pecado em toda a vida e em toda a terra – os efeitos que alienaram homens e mulheres de Deus, de si mesmos, dos outros, do ambiente e da restauração da ordem de Deus na criação. Deus intenta que todos os seres humanos sejam portadores plenos de sua imagem. Essa obra começa nesta vida, mas se completará somente quando Cristo retornar em glória, no fim do tempo. Seu alvo é transformar a cultura e a sociedade pecaminosa em que vivemos e construir uma nova cultura e uma nova sociedade em conformidade com a natureza do reino de Deus, que foi inaugurado por Cristo.

XI. Leis e ética

1. A lei natural

A lei de Deus é a expressão de seu amor e revela suas exigências justas para a raça humana. Foi escrita no coração do homem na criação, e, apesar da queda no pecado, o homem ainda tem conhecimento das exigências dessa lei por meio de sua consciência. No Éden, Deus também revelou sua vontade para o homem em forma verbal, na ordem de não comer da árvore do conhecimento do bem e do mal.

2. A lei de Moisés

A lei de Moisés continha elementos cerimoniais que prefiguravam a pessoa e a obra de Cristo e a vida de sua igreja, os quais já se cumpriram. A lei também continha elementos judiciais que formavam a vida cívica e proveem princípios de justiça que devem refletir-se na vida e nas leis de todas as nações. Os elementos morais da lei continuam a prover o padrão do viver piedoso. A lei de Deus mostra ao pecador o seu pecado e lhe indica Cristo como o único Salvador. Além disso, a lei proporciona um padrão de restrição quanto à expressão do pecado na sociedade. É também o guia do cristão para a vida, pois ele é renovado à imagem de Cristo, revelando tanto o pecado a ser odiado como a justiça a ser seguida.

3. Cristo como o cumprimento da lei

Cristo cumpriu as exigências da lei transgredida, tornando-se maldição por seu povo eleito. Aqueles que foram trazidos à fé em Cristo expressam seu amor por obedecerem aos mandamentos de Cristo, mediante a capacitação do Espírito Santo.

4. Ética sexual e matrimonial

O casamento como uma monogamia heterossexual foi instituído por Deus, no qual homem e mulher deixam suas famílias e unem-se um ao outro em um relacionamento que dura por toda a vida. Os desejos sexuais são satisfeitos dentro dessa união, e os filhos nascidos devem ser criados e educados no conhecimento e prática cristãos. Desvios desse padrão acontecem por causa da pecaminosidade humana. A Bíblia proíbe relacionamentos sexuais fora do casamento, bem como a união entre pessoas do mesmo sexo. A dissolução de um casamento pelo divórcio é permissível se há adultério ou um dos cônjuges abandona irremediavelmente o outro. O homem é descrito nas Escrituras como o “cabeça” da mulher, assim como Cristo é a “cabeça” do homem e Deus é o “cabeça” de Cristo.Essa liderança na família e na igreja é demonstrada ao amar como Cristo amou a igreja.

5. Planejamento familiar

O planejamento familiar é aceitável, mas a contracepção por meios como tomar uma pílula depois da concepção ou pelo aborto de um feto é, realmente, a destruição de uma nova vida. Para casais que têm dificuldades de concepção, a fertilização in vitro (IVF) é aceitável, embora o uso de doador de esperma e de barrigas de aluguel não o seja, porque essas práticas, mesmo sendo clinicamente possíveis, interferem no relacionamento conjugal. Experimentos com embriões humanos são destrutivos à vida humana, assim como experiências com seres humanos adultos que podem resultar em doenças, impotência e morte. Embora a clonagem (“transferência nuclear de célula somática”) de humanos seja tecnologicamente possível, nem a “clonagem reprodutiva” nem a “clonagem terapêutica” satisfazem o modelo bíblico em que sexo e procriação são partes do relacionamento de aliança do casamento. As descobertas científicas humanas, ainda que sejam intrinsecamente boas em si mesmas, podem ser usadas em desafio à ordem moral de Deus para o seu mundo. A vida e a capacidade de gerar filhos têm de ser vistas como dons de Deus, e são dados soberanamente.

6. O prolongamento da vida

O corpo humano está sujeito a várias doenças, e a medicina moderna é capaz de socorrer com tratamentos, drogas e operações apropriadas. Os transplantes de órgãos são uma extensão legítima dessas intervenções médicas para curar enfermidades e prolongar a vida.

7. O término da vida

Assim como a criação de uma nova pessoa é uma ação de Deus, assim também é Ele quem determina o fim da vida de uma pessoa. Tanto a origem como o término da vida está em seu controle soberano. Ainda que medicamentos possam ser usados para aliviar a dor, eles não devem ser usadas para interromper a vida humana; tampouco são idealizadas para o uso como fonte de prazer individual ou para induzir estados extra-sensoriais. Embora a tecnologia moderna possa capacitar uma pessoa a se manter artificialmente viva, quando não existe mais nenhuma evidência de atividade cerebral, desligar tais equipamentos não é errado.

XII. Escatologia

1. O plano eterno de Deus

Bem no princípio do tempo, houve uma promessa a cumprir-se no fim da provação de Adão, o descanso sabático de Deus e a promessa da vida eterna procedente da árvore da vida. Tudo isso antecipava a intenção de Deus no sentido de aperfeiçoar o que Ele fizera muito bom. Paulo viu a ressurreição (a recriação) do último Adão como o cumprimento da criação do primeiro Adão antes da Queda. A história da redenção é o desenvolvimento dos propósitos salvíficos de Deus, culminando na vida e na morte do Salvador, ao conduzir à salvação as nações e na recriação escatológica do céu e da terra. No tempo presente, aqueles que estão unidos a Cristo já experimentam o poder do mundo vindouro pelo Espírito que vive neles. Ainda que eles experimentem a morte, já sentem um gosto da ressurreição futura.

2. O estado da morte

Imediatamente após a morte, as almas dos homens retornam a Deus, enquanto seus corpos são destruídos. Eles não entram em um estado de sono. As almas dos salvos entram em um estado de perfeita santidade e alegria, na presença de Deus, e reinam com Cristo, enquanto aguardam a ressurreição. Essa felicidade não é frustrada pela recordação de suas vidas na terra, visto que agora consideram tudo à luz da vontade e do plano perfeitos de Deus. A felicidade e a salvação deles acontecem tão somente pela graça de Deus. Eles não têm qualquer poder de interceder pelos vivos ou de se tornarem mediadores entre eles e Deus. As almas dos perdidos não são destruídas após a morte, mas entram em um estado de sofrimento e trevas, banidas da presença de Deus, enquanto aguardam o dia do juízo. Não há outros estados além desses dois, após a morte. Nem as almas dos salvos, nem as dos perdidos podem retornar à terra dos vivos depois da morte. Todas as experiências atribuídas à ação de almas desencarnadas têm de ser atribuídas ou à imaginação dos homens ou à ação dos demônios.

3. A segunda vinda de Cristo

A ressurreição de Cristo, seguida pelo envio do Espírito Santo, inaugurou a nova era, chamada de últimos dias nas Escrituras. No presente, o cristão vive na realidade “semi-escatológica” da “já” consumada obra de Cristo e no “ainda não” da consumação futura. Um dia Cristo retornará a este mundo de maneira visível, com o corpo glorioso de sua ressurreição, de modo que todo o mundo o verá. Ele virá em poder, com os santos e os seus anjos, para julgar todos os homens e trazer o reino de Deus à consumação. As Escrituras nos exortam fortemente a estarmos prontos para a vinda de Cristo. No entanto, elas não nos dão um programa de tempo ou sinais de quando isso acontecerá. O retorno de Cristo é a mais sublime esperança do cristão. A igreja é encorajada a orar por esse retorno e apressá-lo por meio da pregação do evangelho a todo o mundo.

4. A ressurreição dos mortos

Os mortos que pertencem a Cristo serão ressuscitados por seu poder, em um corpo semelhante ao dele, e serão adequados ao estado eterno de comunhão com Deus e alegria eterna. Quanto aos perdidos, eles também serão ressuscitados, mas para julgamento e punição eterna. Esse destino deve fazer-nos temer e tremer, impelindo-nos a pregar o evangelho da graça salvadora de Deus a todas as nações. A identidade pessoal tanto dos salvos como dos perdidos será a mesma que tiveram na terra, mas seus corpos serão transformados em sua substância e propriedades.

5. O último julgamento

Cristo retornará a este mundo como seu juiz, porque é o Filho do Homem e o rei que o governa eternamente. Ele julgará os vivos e os mortos com justiça e não mostrará favoritismo ou parcialidade. Os eleitos serão declarados justos por causa da morte e da ressurreição de Cristo por eles, e serão convidados a entrar em seu reino eterno. Os ímpios e réprobos serão convencidos, com justiça, de seus pecados e iniquidades e banidos da presença de Cristo, juntamente com Satanás e os demônios. Nesse ínterim, os cristãos devem apoiar todos os esforços legítimos para trazer justiça a este mundo, sabendo que julgamento pleno e perfeito ocorrerá apenas ao fim do tempo. Quanto às recompensas que Cristo prometeu ao seu povo, a Escritura diz muito pouco, mas o suficiente para nos dar motivação adicional à obediência e fidelidade.

6. O milênio

O ínterim entre a exaltação de Cristo e a sua segunda vinda, ou seja, o tempo presente em que as boas-novas do evangelho e suas bênçãos estão sendo anunciadas às nações, tem sido reconhecido por muitos da igreja como o milênio referido nas Escrituras. Alguns, porém, defendem um período literal de mil anos de governo de Cristo sobre a terra, depois do retorno de Cristo. O tempo presente ainda sofre os efeitos do pecado e rebelião do homem e do poder de Satanás. Manifestações do mal ocorrerão no mundo, juntamente com expressões do reino de Cristo, até que Ele retorne em glória.

7. A nova criação

Depois do retorno de Cristo, Deus recriará o universo físico, e seu povo ressuscitado, vestido de imortalidade e perfeição, viverá sob o governo de Cristo nesse novo céu e nova terra, para sempre.

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